quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Texto sobre deficiência


O portador de deficiência: Educação, família e convívio social.

O indivíduo portador de uma deficiência, por influencia do meio externo, se vê em uma situação de conflito, e por isso fica mais exposto a situações frustradoras, o que pode provocar mais ansiedade e angustia em relação ao seu problema. Na escola, o maior problema das crianças que apresentam algum tipo de retardo em seu desenvolvimento está em compreender o que é dito, isso complica sua integração em sala de aula. Para essas pessoas, as experiências vivenciadas, que muitas vezes são limitadoras, ficam em desacordo com as expectativas sociais. Seus problemas de ajustamento surgem, normalmente, da dificuldade em interagir numa sociedade e cultura organizadas, primordialmente, para sujeitos física, intelectual e sócio-emocionalmente perfeitos. Levando isso em consideração, é preciso pensar que, as pessoas portadoras de deficiência precisam e merecem ser inseridas de modo respeitoso na sociedade, onde possam mostrar suas habilidades e potencialidades, levando em consideração suas possibilidades e limitações. Portanto, é papel de educadores, pais e profissionais afins, preparar esses indivíduos para enfrentar o mundo, encorajando-os e ajudando a sentirem-se fortes e competentes o suficiente para usufruir do que é seu por direito.

A importância da família e do convívio social

É indiscutível a importância existente nos laços materno e paterno para o crescimento e bom desenvolvimento de uma criança, porém, é importante que, conforme crescem, vão se incluindo em outras relações, as quais ajudarão no processo de socialização que irá se expandir ao longo da vida. Para isso a criança vai precisar conviver com um grupo mais extenso, tais como parentes, amigos e outros grupos sociais como escola, comunidade e etc. (Assumpção, 1993).
O contato com um grupo mais amplo ajuda no desenvolvimento da autonomia e da auto-estima, mas para que isso ocorra é preciso que a criança obtenha crédito dos adultos que fazem parte de sua vida inicialmente. Os pais são responsáveis pela transmissão dos valores, e esse processo é difícil tanto para eles como para os filhos. Um dos maiores conflitos gira em torno da grande dificuldade dos pais em definir o que pode ser melhor para seus filhos, e quando há um filho com deficiência mental esses conflitos tendem a se tornarem maiores.
Geralmente o grupo familiar de uma criança com Deficiência mental tende a se retrair da sociedade, tornando suas relações externas muito limitadas. Esse processo interfere no desenvolvimento da criança porque dificulta o estabelecimento de relações em nível de igualdade com os outros. Claro que isso pode ocorrer devido às condições pessoais da criança, porém, a não participação no meio social faz com que deixe de aprender com as experiências externas.
A participação no grupo social ajuda no deslocamento da relação com os pais de forma gradual, nesta passagem a criança aprende a conviver no mundo, percebe que é um ser com diferenças biológicas e que existem diversos comportamentos sociais. Para aprender a conviver no mundo o individuo deficiente precisa de oportunidades que só seus familiares podem dar, através da inclusão e convivência com outras pessoas e grupos. Quando há a privação desse convívio, devido ao isolamento, fica mais difícil aprender as regras e valores que deveriam ser absorvidos pela criança, tornando suas atitudes sociais negativas. Muitas vezes essas atitudes são atribuídas a deficiência mental, porém, ocorrem geralmente em decorrência da proposta educacional que lhe foi oferecida em casa.
É indispensável que o processo de socialização deva ter alicerces seguros vindos de uma relação sólida entre os pais e a criança. É fundamental que a criança se sinta amada e protegida, sentindo-se bem no grupo familiar, assim conseguirá adquirir mais segurança em suas primeiras tentativas de ampliar seus horizontes. (Assumpção, 1993). Sendo assim, é preciso haver uma conscientização dos pais referente a sua responsabilidade quanto a qualidade da relação com os filhos deficientes, a qual terá influência no seu bem-estar físico, mental, psicológico e social. (Souza e Ferraretto, 1998).
A criança portadora de deficiência deve ser vista e entendida como um ser ativo, perceptivo e que se constrói na interação com o meio. Se os pais procuram manter a criança muito dependente, por um período maior que o necessário, poderá negar ao filho o direito de desenvolver sua autonomia e potencialidades de acordo com suas capacidades e habilidades. (Souza e Ferraretto, 1998).
Os pais de crianças especiais precisam ter atitudes diferentes, no sentido de saber conduzir a educação dos filhos de maneira a atender suas necessidades e de ajudá-los a desenvolver sua própria personalidade, conquistando assim uma visão correta e positiva sobre si e sobre o mundo.
Quando a criança consegue se aproximar das pessoas, é capaz de perceber as semelhanças existentes entre elas, achando a oportunidade de compartilhar seus interesses. Porém, é a partir do grupo familiar que se torna possível formar um conceito de si mesma e descobrir sua própria identidade. É papel dos pais ajudar seus filhos a encontrar o caminho para perceber o mundo e a si mesmo, e isso deve ocorrer independentemente das condições pessoais e limites da criança. (Assumpção, 1993).
Desenvolvimento e crescimento significam ganhar independência, e a mesma vem acompanhada de maior responsabilidade. Quando a criança cresce deve adquirir ou aprender a capacidade de adiar prazer, agüentar tensão, lidar com frustração e conseguir administrar melhor seus afetos. Para proporcionar isso aos filhos deficientes, cabe aos pais exercerem sua autoridade, sem precisar usar de autoritarismo e abuso de força física. Um “não” dito com segurança, firmeza e tranqüilidade pode funcionar como organizador para a vida psíquica das crianças. (Souza e Ferraretto, 1998).

O papel da educação

Um trabalho realizado pedagogicamente com portadores de deficiência mental deve preocupar-se, principalmente, em promover a autonomia dessas pessoas, ajudando-as a desenvolver habilidades intelectuais alternativas. É importante valorizar todo e qualquer nível de desempenho cognitivo, levando em consideração o processo para exercer uma habilidade e o objetivo a que isso se destina. (Mantoan, 1998).
Para uma educação de qualidade e uma integração verdadeira dessas pessoas é importante pensar num modo diferente de ensinar e conviver, para que possam então apreender a realidade, estruturá-la e interagir nela. Essa interação é necessária para que as pessoas com deficiência mental consigam desempenhar papéis sociais, atuando, na medida de suas possibilidades, no meio em que vivem.
Quando os papeis sociais são valorizados e o indivíduo sente que tem um lugar no mundo, ele se torna capaz de desenvolver melhor habilidades e talentos pessoais compatíveis com seu contexto de vida, cultura, idade e gênero, fazendo-se assim uma pessoa melhor, mais confiante e com um grau mais elevado de autonomia. Esse deve ser o verdadeiro papel da educação, ajudar pessoas em seu desenvolvimento e crescimento. (Mantoan, 1998).
Se tratando de uma escola especial, essa responsabilidade é acrescida da responsabilidade em acolher de forma adequada cada indivíduo e suas particularidades de forma humana e justa, por isso, além das adaptações relacionadas às dificuldades motoras e de linguagem, esse espaço pode proporcionar ao portador de múltiplas deficiências uma experiência social muito importante, onde poderão compartilhar suas diferenças e limites. (Souza e Ferraretto, 1998).
Freqüentando a escola especial os portadores de deficiência terão a oportunidade de experimentar sentimentos e emoções comuns a todos, tais como: namoro, amizade, papéis de liderança, disputa da menina ou menino mais bonito, e etc. E a possibilidade de ter contato com diversos papéis pode ajudá-los a perceber sua normalidade no que se refere ao caráter psicológico, isso fortalece sua auto-estima, melhora sua auto-imagem, e permite que sejam capazes de se integrar, de uma maneira mais madura, nos outros grupos sociais.
É necessário realizar um trabalho, onde, a equipe deva valorizar a realidade física e psíquica dos alunos, sem perder de vista sua essência enquanto pessoa, enquanto indivíduo possuidor de sentimentos, pensamentos, que questiona e tem expectativas. É preciso proporcionar a cada integrante a oportunidade de enfrentar a realidade, ajustar-se a ela, na medida do possível, e poder sentir-se útil e feliz. (Souza e Ferraretto, 1998).

Conclusão

Vejo como indiscutível a construção de uma relação sólida e afetuosa entre pais e seus filhos deficientes, tão importante quanto é a relação em família, envolvendo nos cuidados deste indivíduo a participação de seus irmãos e parentes próximos. Porém, é primordial que esta família, principalmente mãe e pai, sejam preparados para lidar com seus filhos de uma forma saudável e libertadora, tentando dar-lhes somente o que é dever dos pais, e evitando proteger em excesso ou até negar o problema ao ponto de a criança não conseguir aceitar suas próprias limitações, crescendo com um olhar inferior e desfavorável de si mesma.
Os pais de crianças deficientes devem aprender a respeitar os limites de seus filhos, entender que, apesar das dificuldades, pode ser capaz de progredir de maneira espetacular. Para isso ele precisa ser inserido na sociedade, conviver com o diferente, apreender o que lhe é oferecido do meio. Essa missão nem sempre é fácil para os pais, e tão pouco para o próprio indivíduo, mas é um direito seu como ser humano, e as dificuldades fazem parte da vida.
Quanto a inserção no meio social, o local mais apropriado para ajudar esses indivíduos, depois da família, é a escola, um dos grupos sociais mais importantes e o primeiro contato da criança com o mundo externo, além de familiares e parentes. Se tratando de uma escola com educação especial, é seu papel acolher e ajudar seu aluno a progredir o máximo possível, respeitando sempre suas limitações e procurando exaltar suas habilidades, desenvolver sua personalidade e ajustar sua autonomia, preparando assim seu aluno para lidar, mais seguramente, com o mundo que o espera.


Referências

AMIRALIAN, M. L. T. M. Psicologia do excepcional. V. 8, Editora EPU. São Paulo, 1986.

ASSUMPÇÃO, F. B. Jr.; SPROVIERI, M. H. Deficiência mental, família e sexualidade. V. I, Editora Memnon. São Paulo, 1993.

SOUZA, A. M. C. de; FERRARETTO, I. Paralisia Cerebral: aspectos práticos. Editora Memnon. São Paulo, 1998.

Artigo por: Janaina Nascimento Soares

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