sábado, 2 de julho de 2011

ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA - Atitudes facilitadoras

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Empatia, congruência e aceitação incondicional, são atitudes facilitadoras da Abordagem centrada na Pessoa. Basear-se nestas atitudes é o grande desafio e, ao mesmo tempo, o diferencial do psicólogo que rege sua carreira através da ACP.
Como ser empático em um mundo onde todos estão sempre carregados de egoísmo, frieza e até maldade? Como ser congruente se somos levados à mentira quase todo o tempo de nossa existência? E de que forma podemos aceitar incondicionalmente, se a cada momento nos surpreendemos com os absurdos que o ser humano é capaz de cometer?
Aprendi que, para ser Psicólogo da ACP é necessário antes ser “pessoa da ACP”. Não é uma técnica que se aprende na faculdade, é um jeito de ser. Quem procura esta abordagem, no fundo, carrega em si a sua essência, a crença incondicional no ser humano.
Não estou dizendo que todo psicólogo baseado na Abordagem Centrada na pessoa seja alguém bom e de coração puro. Muito pelo contrário, às vezes nos pegamos com um coração duro, e não aceitamos ou toleramos tudo de errado. Somos humanos acima de tudo.
Eu como profissional e pessoa, me vejo em um turbilhão de dificuldades, tento ver os dois lados de tudo, e é complicado perceber qual o lado certo. As vezes acho que não há lado certo e que o mundo está perdido mesmo, pois se o sofrimento das pessoas é causado pela sociedade e a sociedade está ruim por culpa das pessoas, então vivemos em uma bola de neve que só tende a crescer.
Afinal, de quem é a culpa em relação aos problemas do mundo? Não saberia a resposta, mas acho que se acreditar-mos realmente no potencial das pessoas, poderemos tentar melhorar o mundo.
Sempre carreguei dentro de mim uma tendência grande à empatia. Lembro sempre que todos temos um lado bom e um lado ruim, e de como as vezes, sentimos ódio, raiva, inveja, rancor, e penso que, se todo ser humano sente tudo isso, então aquele,  que teve menos oportunidade de ser amado ou aprender mais sobre a vida, seria realmente capaz de ser cruel, maldoso e frio. Fico sempre em dúvida sobre quem é a verdadeira vítima.
Muitos vão ler isso e me chamar de louca. Talvez eu seja mesmo meio maluca, mas a verdade é que, cada ser é único e carrega sua história, sua essência. É muito fácil ver um ponto de vista apenas, e sei que é difícil colocar-se no lugar do outro quando somos a vítimas ou quando estamos intimamente envolvidos na história. Mas tudo nesta vida tem dois lados, sempre há dois pontos de vista ou vários, e seriamos muito mais justos se fossemos capazes de olhar e avaliar toda situação por vários ângulos.
Com isso não estou tentando proteger ou justificar qualquer ato maldoso, cruel e ilegal. Só gostaria de mostrar que, sempre existe uma história de vida por traz de toda situação, seja ruim ou boa.

 Janaína N. Soares
Psicóloga Centrada na Pessoa

domingo, 29 de maio de 2011

ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA - O que é tendência atualizante?

A tendência atualizante é um dos princípios fundamentais da Abordagem Centrada na Pessoa. Trata-se de uma capacidade inerente em todo ser vivo de buscar o que é melhor para si. Para entender a tendência atualizante é preciso pensar que, todo ser vivo, inclusive o homem, busca naturalmente a sobrevivência, seja de que forma for, e o fará mediante ao seu contexto de vida.
A Tendência atualizante é um constante movimento que da continuidade à vida. Nem sempre é algo positivo e bom, afinal, o que é bom para um ser pode ser ruim para o outro. Isso significa que, uma pessoa pode buscar sua atualização através de um ato violente e outra pode buscar mediante a uma atitude solidária.
É preciso entender que, a atualização é algo natural da vida, como o envelhecer, é inevitável, vai ocorrendo gradativamente e será bom ou ruim de acordo com a vida que se leva, com as crenças de cada um, o contexto familiar e social e etc.
A cada instante estamos nos atualizando, cada pensamento tem o poder de transformação, cada palavra modifica toda uma existência, cada gesto leva a uma direção diferente.
O processo psicoterapêutico na abordagem Centrada na pessoa tem como objetivo ajudar o individuo a perceber-se consigo através do contato “psicólogo-cliente” e avaliar suas atitudes, podendo assim perceber o outro e buscar novas formas de atualização. A busca por atualização é uma forma de resgatar a harmonia consigo e conseqüentemente com o próximo, esta busca pode tornar-se cada dia mais proveitosa de acordo com a consciência adquirida durante o processo terapêutico

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Sentimento Inesplicável

Um sentimento estranho que aparece do nada. Estamos bem e de repente tudo fica incomodo. A vida fica preta e branca, as pessoas perdem a graça, tudo causa irritação ou tristeza. Uma vontade de chorar arrebatadora nos consome e torna-se incontrolável. Esse sentimento não tem explicação, não tem tradução e causa dor.
Esse sentimento é a ansiedade. No dicionário, o termo ânsia significa angústia, desejo ardente, anseio; o verbo ansiar quer dizer: causar ansiedade, desejar com ardor, almejar; e a palavra ansiedade significa: um estado afetivo em que há sentimento de insegurança. O que sentimos é tudo isso misturado. A pergunta que fazemos é: o que tanto se deseja ou almeja? O que causa tanta angustia? Porque tanta insegurança? Não sei se há resposta para tudo isso. Muitas vezes é possível chegar a alguma conclusão, quando o sentimento de ansiedade vem por algum motivo especifico. Mas, e quando ele simplesmente aparece, sem que haja um motivo declarado? Creio que esses são os momentos onde vêm a tona aqueles problemas que fazemos questão de esquecer, os que estão guardados, as vezes, durante uma vida toda, e em algum momento da vida sentimos, mas já não se sabe do que se trata.
A ansiedade é resultado de uma dor que guardamos sem saber, e o tempo, com sua sabedoria, afastou da memória para causar menos sofrimento, porém, nosso inconsciente se encarrega de lembrar, e às vezes deixa escapar em forma de sintoma, em forma de ansiedade.
Talvez para algumas pessoas não seja fácil entrar em contato direto com esse sentimento, a ponto de tentar entendê-lo e saber de onde surgiu, porém, essa seria a melhor forma de lidar e combater a ansiedade. A fala é o remédio natural do ser humano para curar suas angústias, quando falamos estamos também ouvindo a nós mesmos, é a concretização dos sentimentos em forma de palavras. Somos movidos pelo simbolismo das coisas, e a palavra é o símbolo do sentimento. Mas, não basta falar e escutar, é preciso ouvir e entender o que esta sendo dito. Mais uma vez entra o simbolismo, que está por traz de muitas palavras. É preciso buscar os significados do que estamos dizendo, ou seja, entender o que está por traz das nossas palavras. Talvez ai encontremos respostas para a pergunta: o que tanto almejamos? De onde vem tanta insegurança?

Janaina N. Soares

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A sabedoria injusta da Vida



Será que a vida é justa? Se pensarmos que, desde  o nascimento estamos fadados a lutar, correr atrás, brigar, até conseguir dar os primeiros passos, pode-se pensar que a resposta é negativa.
O primeiro momento de vida já é a maior das dificuldades do ser humano, afinal, estamos lá, bem quentinhos em nossa bolsa d’água, grudadinhos em nosso cordão umbilical, recebendo dele tudo que precisamos, ouvindo e sentindo nossa mãe com todo amor do mundo. Ali, nada pode nos acontecer de ruim, tudo é perfeito. De repente somos expulsos, nossos olhos são ofuscados pela luz da vida, surgem barulhos de todos os lugares, tudo parece confuso, dolorido, incomodo, não somos mais parte de nossa mãe, é o inicio da jornada pela vida individual, onde tudo depende apenas de nós.
A partir daí não há mais volta, a vida, com todas as suas injustiças, nos consome e cobra cada passo errado, cada palavra mal pensada. Pagamos preços às vezes muito altos, quase a níveis insuportáveis. Porém, quando as dificuldades são superadas, percebemos o quanto foram indispensáveis para que tudo desse certo. Sem aqueles erros não chegaríamos nunca a um acerto, sem as pancadas da vida, jamais iríamos aprender o que realmente é bom ou mau.
Apesar de saber claramente de tudo isso, não é muito fácil lidar com as dificuldades. Elas machucam de uma forma muito dura, nos colocam no fundo do poço, dando a sensação de que tudo é impossível e que não há saída.
O bom de tudo isso é que, depois de alguns anos de vida, aprendemos que tudo tem jeito, que apenas um dia pode ser decisivo e os caminhos são inesperados, surpreendentes.
Talvez a vida não seja justa mesmo, e de propósito, porque se fosse justa não seria certa. A vida nos ensina todos os dias a sermos melhores, o problema é que, muitas vezes, aprendemos isso da forma mais dura e complicada. O jeito é aceitar, entender e tentar perceber que, tudo que acontece tem um motivo, e para crescer é preciso ter muita paciência e calma. É preciso aceitar a sabia injustiça da vida.

Janaina N. Soares 

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Aprendendo a seguir o próprio caminho


É indiscutível a união do ser humano com sua mãe, desde o momento em que é gerado. Afinal, eles ficam ligados diretamente no mesmo corpo durante nove meses, portanto é comum que, ano nascer, haja um laço muito forte nesta relação de amor. O bebê, em seus primeiros meses de vida, sente que ele e a mãe são a mesma pessoa, mas a medida que vai crescendo, surge a necessidade de transformar-se em um ser único, separado, individual. É um processo natural, e ocorre de forma saudável mediante a certeza de que, lá bem perto está a mãe, para acolher quando a solidão for insuportável. Em psicanálise essa separação é chamada de “parto psicológico”.
Aproximadamente aos cinco meses de idade, o bebê inicia sua jornada ao nascimento psicológico. Esse é o estágio em que a criança começa a perceber que o mundo funciona, mesmo sem que ele exista, e vê as coisas como objetos de exploração, sente curiosidade em tocar, sentir e ver, tendo prazer em tudo isso.
Aos nove meses chega á um segundo estágio, onde começa a engatinhar, maneira encontrada para ir fisicamente para longe de sua mãe. Porém, com a segurança de poder voltar para ela buscando uma base de segurança, com a qual poderá reestabelecer-se emocionalmente. A criança, a partir daí, vai praticar sua independência, e vai se encantar com a sensação de que pode ir além, de que é um ser forte e capaz.
Após essa prática, a criança já entende, mais ou menos, que é um ser individual e compreende as implicações da separação. Isso ocorre próximo aos dezoito meses de idade. É um momento difícil, porque se da conta de como é pequena, frágil e desamparada, aprende que existe um preço a ser pago quando se vive por conta própria.
No terceiro estágio do processo de separação, ocorre o enfrentamento e a resolução de um problema, com a qual a criança precisa se confrontar, afinal, agora ela conhece o prazer em ter autonomia, mas para tê-la é preciso estar sozinho, o que causa sofrimento. A tentativa então é de conquistar novamente à segurança e proximidade tida antes com a mãe. A criança vai precisar de uma reaproximação. Neste momento o bebê vai pedir atenção, tentar conquistar sua mãe encantá-la, a fim de diminuir a ansiedade vivida na separação.
Próximo ao fim do segundo ano de vida, o pequeno ser irá procurar seu modo particular de resolver a crise da reaproximação. É o momento de estabelecer um afastamento confortável entre ela e sua mãe, onde não se sinta muito distante, mas também sinta que tem alguma independência psicológica. Nesse estágio já foram resolvidos grande parte dos conflitos de separação e reconciliação. O Bebê viveu uma jornada, dá união para a separação, saindo da diferenciação, indo ao aprendizado e conquistando a reaproximação. Estes estágios têm fim com um quarto estágio, onde se consegue estabilizar imagens interiores de si e dos outros.
Apesar de já ter progredido muito, a criança desta idade ainda não é madura o suficiente para perceber que o bom e o mau podem caminhar juntos. Para a criança há algo  inteiramente bom e o que é totalmente ruim, de forma separada. A tendência é tentar defender o bem e afastar tudo que é ruim. Tenta evitar o sentimento de raiva, com medo de perder sua fonte de amor (mãe).
Através desta vivência, gradualmente, a criança aprende, mediante ao sentimento de amor e confiança, estabelecido em suas relações, a entender a ambivalência. Daí em diante, é possível unir a criança má e a criança boa, em um único ser. Nesse período, é possível também entender que, os outros também têm dois lados, hora podem ser bons e hora podem ser maus.
Entre os segundo e terceiro ano de vida o ser humano em desenvolvimento aprende que, o amor de sua mãe pode superar a raiva e o ódio, ele é incondicional. É o momento da vida onde se adquire o senso de amor, segurança e conforto proporcionados pela mãe, aprendizado primordial para um bom desenvolvimento.
Janaina N. Soares 
Reflexão sobre capitulo do livro "Perdas Necessárias".

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Lidando com as perdas da vida - parte II


A vida do ser humano já tem inicio com uma grande perda. O bebê é lançado para fora do conforto do útero de sua mãe, a partir daí sua maior necessidade passa a ser os cuidados maternos. Não é nada fácil ter de se tornar alguém separado da mãe, aprender a defender-se sozinho e sentir dentro de si que não faz parte do mesmo ser, como antes. Essa é a primeira perda de uma pessoa, e apesar de haver ganhos ao viver a separação física e emocional da mãe,  quando se é muito pequeno e despreparado,  as conseqüências de uma separação prolongada podem ser muito graves. O bebê sente-se seguro diante da presença materna, e seu primeiro terror é o medo de perdê-la.
Quando a criança completa aproximadamente seis meses de vida já é capaz de criar uma imagem mental referente a ausência da mãe. Ele é capaz de se lembrar de sua mãe, sendo assim sua ausência provoca grande sofrimento, sente-se desamparado e rejeitado. Os bebês sentem que a mãe não irá retornar, e quanto mais jovem o bebê, mais sofrimento causará essa sensação. Ter alguém próximo, que possa substituir os cuidados maternos, ajuda a amenizar esse sofrimento, porém, somente a partir dos três anos de idade a criança poderá começar a entender que a ausência da mãe é temporária, e mesmo assim, uma espera por seu retorno pode parecer interminável para a criança.
Uma criança, que é deixada por sua mãe pode se manifestar de maneira muito negativa em relação ao abandono sentido. Esse bebê foi submetido ao grande desespero de ter sido abandonado, mesmo que tenha sido por algumas horas apenas. As respostas podem incluir protesto, desespero e alheamento. Algumas crianças, que não conseguem suportar a ausência, tendem a procurar substitutos maternos, e quando há o retorno da mãe, a criança tende a recebê-la de maneira fria, distante e apática. Essa é uma das maneiras encontradas para enfrentar sua perda. É um disfarce para seu sentimento de raiva, uma defesa contra o medo de amar e perder novamente.
Os primeiros laços do ser humano são muito importantes, através deles é possível tornar-se humanos completos, o elo (mãe-filho ou pai-filho) ensina a amar e a ser amado. Se existirem separações graves no inicio da vida de um bebê, este será marcado por cicatrizes emocionais no cérebro, devido ao prejuízo a uma conexão humana essencial. Todo indivíduo necessita obter uma conexão humana. As pessoas são programadas para amar desde seu nascimento, e essa capacidade surge assim que é possível identificar um ser separado do “eu”.
Para que um bebê tenha um desenvolvimento saudável, é fundamental que possa ser submetido a uma conexão especifica nos primeiros meses de vida. A privação, temporária ou definitiva da presença da mãe tem um preço alto. O sofrimento do bebê é muito intenso, e existem danos, mesmo nas situações familiares mais comuns, como um divórcio, hospitalização, ou qualquer distanciamento físico ou emocional com a mãe.
Nas situações atuais, com a evolução do movimento feminista, onde a maioria das mães tem de trabalhar, são os filhos que sofrem as conseqüências. As crianças estão sendo privadas do direito de criar laços de confiança, alegria e auto-avaliação, os quais ocorrem nos primeiros anos de vida através da conexão com os pais. Com a ausência destes, os indivíduos crescem entendendo que o amor é um capricho e que os laços humanos podem se tornar investimentos perigosos, devendo então reservar o amor para si próprios, como forma de sobrevivência.
A criança  privada de uma ligação primaria, tende a se tornar menos confiante, seguro e não consegue adquirir a convicção de que vão encontrar, no decorrer da vida, pessoas capazes de satisfazerem suas necessidades. Quando, mesmo existindo essas ligações, se elas forem defeituosas ou instáveis, a tendência será transferir algumas das frustrações e necessidades não satisfeitas, para relacionamentos futuros, como amigos, filhos, cônjuges e até para colegas de trabalho.
A maior responsabilidade dos pais, quando decidem cuidar de seus filhos, é fazer com que aprendam a “ser humanos”. Para isso é necessário estar por perto, amparando, protegendo e ajudando para que um dia possam lidar com as perdas naturais da vida. Cada  perda tem seu tempo certo para acontecer, e depende dos pais perceberem qual a hora de estar perto e qual a hora de afrouxar os laços que construíram do decorrer da vida, até que os filhos estejam preparados para seguir os seu caminho. 
Janaina N. Soares
Texto inspirado no livro: "Perdas necessárias".

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Filme: Cartas para Julieta





Para que Psicoterapia?


Um dos objetivos da psicoterapia é proporcionar à pessoa o auto conhecimento e a compreensão mais realista de suas potencialidades, capacidades, sentimentos, necessidades e limitações. Quando é possível entrar em contato real com tudo isso o indivíduo adquire mais segurança e se torna mais confiante para lidar com os problemas e resolvê-los de modo apropriado. 
Ao contrário do que se pensa popularmente, o atendimento psicológico não é recomendado apenas para pessoas com graves problemas psicológicos. Afinal, cada indivíduo é único, e todos têm seus problemas ou dificuldades, que obviamente incomodam e causam sofrimento, por mais simples que parece aos olhos alheios. Todos têm o direito de viver melhor, e o auto conhecimento pode ser um ótimo caminho para enfrentar os espinhos da vida. 

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Lidando com as perdas da vida


O ser humano lida todo o tempo com o proibido ou impossível e busca sempre uma forma de se adaptar aos seus relacionamentos e vivê-los de formas imperfeitas e distintas. Nesses relacionamentos fatalmente inclui-se a perda, o abandono e a desistência. A perda faz parte da vida humana. Apesar disso, é muito difícil aceitá-la e conviver com ela. 
A melhor forma de superar uma perda é lamentar por ela. A lamentação pode ser um processo interior difícil, lento e doloroso em qualquer situação, tanto para o fim de um casamento, o fim de uma amizade especial, a perda do que fomos ou do que um dia esperamos ser, porque todos esses fatos fazem parte da essência humana, e o homem não está pronto para viver sem isso. 
A dor da perda é vivida em fases. Através destas fases se torna possível compreender a dor como um processo e não como um estado permanente. A primeira fase desse processo vem acompanhada de um choque, apatia e a sensação de descrença. É difícil aceitar que, a pessoa amada não está mais por perto. Vive-se então um momento de espera, onde o intelecto tenta reconhecer a perda, enquanto o corpo tenta negar os fatos. Quando passa o choque inicial, as vezes permanece um sentimento de incredulidade e negação, até que seja possível aceitar a realidade.
A segunda fase é mais longa e pode causar grande sofrimento psíquico. É uma fase de choros e lamentações. Passa-se por mudanças de humor e possíveis queixas de desconforto físico. É uma fase que envolve letargia ou atividade exagerada, regressão à outras fases, ansiedade pela separação, raiva e um desespero muito intenso. Aqui, a raiva pode ser direcionada à pessoas que estão de alguma forma, envolvidas na perda. O sentimento de culpa, seja irracional ou justificado, também é quase sempre parte do processo de dor pela perda sofrida.
O processo de dor passou pelo choque inicial e pela fase de dor aguda, a partir daí inicia-se o que pode ser chamado de final do luto. É um fim que significa um grande passo para a recuperação, aceitação e adaptação. Nessa fase a pessoa começa a recuperar a estabilidade, a energia, a esperança, a capacidade para ter prazer e investir na vida. É uma adaptação à grande dificuldade de lidar com as novas circunstâncias da vida. A tendência é obter mudanças de comportamento e criação de novas expectativas e autodefinições, uma forma de se acostumar com a nova vida.
As fases descritas anteriormente consistem no processo de lamentação, a forma que o homem encontrou para conquistar o crescimento e superar a dor, tentando se adaptar a ausência da pessoa amada ou da relação constituída. Porém, as pessoas não estão acostumadas a conviver com a perda, e algumas não tem força o suficiente para superar, entrando em um processo prolongado ou crônico de dor, estagnando-se na segunda fase. O individuo vê-se preso a um estado de dor intensa e irremediável. Sente um grande sofrimento, raiva, culpa, ódio por si mesmo, depressão. Se torna incapaz de dar continuidade a sua vida.
O normal é que a dor passe em um determinado período, talvez um a dois anos. Após viver todas as fases, voluntariamente a pessoa vai se desligando do relacionamento que perdeu. Quando isso não acontece, pode-se dizer que o sofrimento se tornou patológico, ou seja, a pessoa não pode e não quer se libertar.
Pode acontecer o contrário também, quando o sofrimento, que deveria ser intenso, fica ausente. Essa também é uma forma patológica de sofrimento. Algumas pessoas evitam sua dor por anos ou até a vida toda, se enganam achando que suportam bem a dor da perda, porém, na realidade não podem lidar ou aceitar.
A realidade é que, a dor existe, faz parte da vida, e deve ser enfrentada. As perdas causam sofrimento, porém, são necessárias, afinal na maioria das vezes precisamos perder para se obter finalmente um ganho. Quando a perda envolve a morte de quem se ama, ai fica mais difícil, porque a morte é algo quase desconhecido propriamente, não se sabe lidar com ela de forma realista, e não se tem escolha quando o assunto é esse. Resta então o poder de escolher a atitude a ser tomada diante da morte ou da perda. As escolhas podem estar entre morrer quando alguém que amamos morre, viver como incapacitado diante da dor, ou buscar novas formas de adaptação.
O processo de lamento dá certo quando se escolhe buscar outros caminhos. Esse processo faz o homem capaz de reconhecer a sua dor, senti-la, passar por ela. Através do lamento, é possível libertar os mortos e guardá-los dentro de nós.  Lamentar ajuda na aceitação das dificuldades deixadas pela perda, e a partir desse lamento, é possível enfrentar e elaborar o luto e a dor de perder.

Janaina N. Soares
Texto inspirado no livro “Perdas necessárias”. 

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Pensamentos


Verdadeiramente humanos

Seria maravilhoso viver em um mundo onde as pessoas fossem capazes de olhar nos olhos umas das outras, abraçarem-se sem carregar na alma o receio de estar sendo invasivo e sem a sensação de estar fazendo algo errado e até imoral.
O ser humano teme sua essência mais verdadeira. Rejeita cruelmente o dom que lhe foi dado por Deus, o dom de amar. É incrível como não é capaz de perceber que tudo a sua volta foi feito pelo amor e com Amor. O homem se tornou capaz de transformar o amor em algo, e hoje tenta até comercializá-lo. Nos tempos atuais ficou bem mais fácil fantasiar o amor, vivê-lo verdadeiramente acaba sendo um fardo. Isso porque nos é ensinado desde bebês que, não se pode confiar, se entregar, se doar completamente para o próximo.
Nossas crianças crescem cheias de correntes imaginárias e couraças, privadas de liberar seus mais puros sentimentos e tornarem-se humanos. O homem não aprendeu a “ser” amor e sim a “ter” amor.
Devido a essa distorção em relação ao real significado da palavra amor, estamos em um triste mundo, onde é inevitável o medo do semelhante. As pessoas temem “pessoas”, as quais por algum motivo aprenderam que, a melhor forma de viver em segurança está em liberar seu ódio, rancor e vingança.
Estas pessoas vingam-se da vida que não lhes foi tão generosa, de seus pais que, por muitos motivos não estiveram presentes, ao menos para ensinar-lhes a criar suas couraças; se vingam do desprezo dos outros e de si mesmos, por sentirem tanto ódio. Mas, não agem com violência só por vingança, buscam também, da forma mais grotesca, cuidados e atenção da sociedade, que de alguma forma é responsável por suas vidas desgarradas.
Estamos rodeados de pessoas que não podem ser “humanas” por medo e outras que não conseguem ser “humanos” por não saber como, porque não tiveram a oportunidade de aprender.
Será que alguém hoje em dia consegue ser “humano”? Para isso precisaríamos deixar de ter medo de nossos semelhantes, o que é quase impossível, com toda violência que vivemos atualmente. Precisaríamos deixar de lado o sentimento de vingança e aprender a Amar, no sentido mais puro desta palavra.
Meu maior desejo hoje é viver em um mundo justo, onde seja possível expressar os mais puros sentimentos, sem medo ou vergonha de ser autêntica, sem precisar criar diversos personagens e sem perder a essência que cada ser carrega em sua alma. Quero um mundo onde seja possível Amar a todos, principalmente aqueles que todos os dias imploram à sociedade um acolhimento, carinho, cuidados. Gostaria de poder olhar para meus irmãos sem temê-los por estarem na rua, pedindo, roubando, usando drogas. Quero dar-lhes um olhar verdadeiramente humano, mas para isso eles precisam se sentir “verdadeiramente humanos”.

Janaina N. Soares