domingo, 24 de outubro de 2010

Solidão (Retirado de TCC/2010)


É bonito ver como uma simples palavra pode carregar tantos significados e sentimentos. A palavra solidão pode representar muitas coisas, tem o poder de causar uma imensa tristeza e também pode ser a saída para um vazio que o homem não consegue preencher, tudo isso depende apenas de como é dita, ouvida e vivida.
É muito raro encontrar alguém que consiga ver, em um momento de solidão, o quanto está acompanhado de pensamentos, sentimentos, desejos aos quais, normalmente, não se presta atenção quando há alguém por perto. Nos dias atuais as pessoas evitam entrar em contato com tudo isso, talvez porque alguns sentimentos causem dor, ou seus desejos são tão proibidos que não podem acontecer, nem no silêncio de sua consciência. As pessoas buscam companhia, na tentativa de livrar-se de si mesmas e de se conhecerem a fundo, parecem ter medo do que irão encontrar pela frente.
Que ingenuidade do homem achar que, é melhor tampar a visão, se ocupando sempre de coisas a fazer, de pessoas à cuidar do que olhar para sua própria vida, para seus mais íntimos e obscuros sentimentos. Mais ingênuos parecem quando tentam de todas as maneiras evitar a solidão, achando que está é a receita para uma vida melhor, que ter alguém ao lado trará a felicidade desejada e a partir daí conseguirá preencher o vazio que encontra na alma. É preciso descobrir que, a maior companhia esta dentro de si. Se o homem conseguir um dia encontrar uma nova maneira de viver a solidão poderá, então, preencher o seu vazio.
É triste pensar que, se hoje as pessoas vêm o mundo desta forma, achando que devem ter coisas para ser felizes, que precisam pertencer às pessoas, aos seus trabalhos e obter pessoas e objetos, é porque aos poucos o mundo foi sendo construído desta maneira. Com o progresso, a globalização, o capitalismo e a tecnologia o mundo vai ficando cada dia mais difícil para o ser humano, que, com toda a sua capacidade não conseguiu ainda resolver um problema que pode ser a fonte de destruição humana, não tem meios para preencher seu vazio, para curar sua ansiedade e não consegue ver o lado bom, verdadeiro e inevitável de sua solidão.
Um mundo melhor pode ser construído, mas isso ocorrerá apenas quando o homem entender que estar só não significa sua derrota, seu fracasso. As pessoas precisam aprender que, de qualquer forma estão sozinhas, e isso é necessário para seu desenvolvimento. O outro não deixa de existir, não é necessário deixar de partilhar momentos, dividir os pesos da vida, suas alegrias e até sua dor, mas não é no outro que se encontra a liberdade nem a felicidade, ninguém pode dar isso à ninguém, é preciso achar a liberdade dentro de si, buscar respostas que só em nossa mais intima solidão poderão ser encontradas.
Como vimos, existem várias formas de ver a solidão. Pode sim ser motivo de tristeza, quando se está precisando de um ombro amigo, de uma palavra ou consolo e não há ninguém para dividir tudo isso, não há onde se apoiar. Mas, também pode ser uma necessidade. Quantas vezes, na correria do dia-a-dia não se deseja do fundo do coração ficar apenas alguns minutos sozinho, em silêncio, ouvindo o próprio pensamento. O grande problema do homem atual é que, se doa tanto para coisas, trabalho e pessoas que esquece de dar um pouco para ele mesmo. As pessoas estão tão acostumadas com sua rotina que não acham mais tempo para si, estão sempre dando a desculpa de que não conseguem parar, e acabam criando uma prisão de onde não sabem sair, perdem sua liberdade achando que essa é a melhor forma de viver.
Algumas pessoas passam à vida se preocupando em ter alguém, casar, ter filhos e quando não conseguem ficam extremamente frustradas, deprimidas, vendo-se como um fracassado, infeliz. Outros dão valor ao material, acham que para serem felizes precisam comprar coisas, investir e esquecem de preencher sua alma com sentimento, amor por si, respeito por seu corpo e mente. 
É hora de parar para pensar no que está sendo feito do ser humano. Vivemos um caos que não é perceptível, é sentido de forma cruel e vai destruindo dia após dia. As pessoas precisam tentar pensar em uma saída, dar valor ao que é pequeno e indispensável. O primeiro passa a ser dado é o auto-conhecimento. O homem precisa saber quem é, o que precisa, para se colocar no mundo de forma correta e saudável. Quando conseguir se conhecer precisa aprender a amar, no verdadeiro sentido da palavra. Praticar o amor no mundo, começando pelo amor próprio. Quando aprender que amar não é possuir ou pertencer, talvez consiga um grande progresso, vai aprender que tudo está ao seu alcance e não precisa se preocupar com o externo e sim dar atenção ao que está dentro da alma. Mas, para obter todas estas conquistas é preciso ter consciência do que está acontecendo e do que está fazendo com o mundo, com a natureza e consigo. Se o homem conseguir tudo isso terá encontrado a cura para sua ansiedade e o preenchimento de um vazio que cresce a cada dia. A solidão, enfim, poderá ser vencida. 

Texto de Janaina Nascimento Soares

A IMPORTÂNCIA DA PSICOTERAPIA NO MUNDO ATUAL


A psicoterapia tem como principal objetivo facilitar o auto conhecimento e autonomia psicológica de forma que, a pessoa tenha condições de assumir com liberdade sua existência. (TEIXEIRA, 2006). 
Através da psicoterapia é possível buscar reconhecimento, aceitação e encontrar soluções para diversos problemas existenciais. Esta busca de soluções esta diretamente relacionada a uma reorganização do mundo interior, problemas que, muitas vezes, decorrem da época em que vivemos, do contexto sócio-economico-cultural.  (PORCHAT, 1989). Problemas diretamente ligados ao vazio humano, ansiedade e solidão do homem atual.
Para a autora, a psicoterapia ocupa um lugar apropriado e aceito pela sociedade, trazendo a ajuda necessária. Nesse processo pode-se proporcionar uma relação baseada em conhecimentos específicos, tendo como ponto principal do trabalho, desenvolvido entre terapeuta e paciente, o vínculo terapêutico, o qual irá proporcionar ao paciente uma reorganização de seu mundo interior, e como conseqüência, a mudança em seu modo de ser e agir no mundo. Através da relação humana estabelecida durante o processo terapêutico existe um forte campo emocional, onde sentimentos de amor, raiva, desespero, confiança, gratidão, frustração passam a ter diversas modificações no mundo interior do paciente.
Todas as emoções que surgem em relação ao terapeuta ocorrem porque com ele é possível se abrir, porque é alguém que esta apto a escutar e mostra-se interessado nos problemas apresentados, isso passa confiança para o paciente. O terapeuta é responsável, de alguma forma, pelas mudanças que irão aparecer aos poucos, mas, também é aquele que não da respostas prontas aos problemas, aponta os limites e, mesmo provocando frustração, auxilia para que a pessoa consiga encontrar sozinha um caminho.
Na situação psicoterapica, o terapeuta tem o papel de dar o que se esta cobrando dele, faz isso quando aponta o modo de ser e agir da pessoa, dentro das relações estabelecidas.  É durante esse trabalho que, os problemas podem ser reelaborados através da relação estabelecida.
De acordo com May (1977), no processo terapêutico surge um relacionamento total entre duas pessoas, o qual envolve de certa forma alívio para a solidão física, a qual todos os seres humanos estão sujeitos. Há um conforto por ter alguém interessado em escutar os problemas e compreendê-los, ter uma pessoa que se coloca em prol do outro e de seu bem estar.
Para o autor, o encontro total com o paciente é para o terapeuta o veículo mais útil para a compreensão do mesmo e também o mais eficaz instrumento para ajudá-lo a ir de encontro com suas possibilidades de mudança, além disso, também para o terapeuta traz diversos benefícios, passa a ser uma troca, onde também o terapeuta estará obtendo mudanças em sua vida.
O objetivo mais importante da psicoterapia é que, o movimento para que haja uma mudança e realização devem vir de dentro, do próprio ser do paciente e de sua necessidade em melhorar e realizar esse ser.
A psicoterapia pode ser mais uma saída para os problemas do homem atual, isso porque através dela é possível desenvolver autoconsciência, obter um auto-conhecimento e tornar o indivíduo capaz de amar a si e aos outros de forma madura e segura. 
Texto retirado de TCC/2010.
Janaina Nascimento Soares

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A vida de Carl Rogers - A Psicologia Centrada na Pessoa

A vida de Carl Rogers
Carl Rogers nasceu em 8 de janeiro de 1902, Oak Park, Illionois. Foi criado sob restrita e inflexível atmosfera religiosa e ética, onde seus pais tinham constantes preocupações em relação ao bem-estar dos filhos e lhes ensinar a ter respeito e responsabilidades com o trabalho. Viveu privado de hábitos envolvendo bebidas alcoólicas, bailes, jogos de cartas ou teatro, e tinha uma vida social mínima e se dedicava muito ao trabalho. (Pervin, 1978, p. 243).
Tendo Rogers se submetido a uma vida tão regrada leva para sua vida profissional duas tendências que se refletem claramente em seu trabalho futuro, a preocupação com as questões éticas e morais e o profundo respeito por métodos científicos. (Pervin, 1978, p. 243).
Rogers iniciou sua formação na University of Wisconsin, na área agrícola, devido ao trabalho desenvolvido na fazenda da família. Depois de dois anos mudou radicalmente sua escolha profissional, ingressando no seminário. Durante uma viagem ao oriente, em 1922, teve a oportunidade de observar adesões a outras doutrinas religiosas e de observar o ódio mútuo existente entre franceses e alemães, que pareciam ser pessoas agradáveis, exceto quanto a este aspecto. Experiências como estas ajudaram-no a decidir-se a ingressar num seminário teológico de tendência liberal, o Union Theological Seminary, em nova York. Como se interessasse profundamente por questões relativas ao significado da vida para as pessoas, mas como também tivesse dúvidas a respeito de doutrinas religiosas especificas, Rogers decidiu deixar o seminário para trabalhar na área de orientação infantil e atuar como psicólogo clinico. (Pervin, 1978, p. 243).
Fez pós graduação no teachers college, da Columbia university, tendo recebido PhD, em 1931. Rogers caracteriza os trabalhos desenvolvidos no curso e sua experiência clinica como algo que o levou a um encharcamento nas concepções dinâmicas de Freud e nas posições rigorosas, cientificas, friamente objetivas e estatísticas que, naquela época, predominavam no teachers college.  Novamente, deparamos com a presença de impulsos para direções diferentes, com o desenvolvimento de duas tendências um tanto divergentes que Rogers posteriormente tentou conciliar. Realmente, os anos profissionais restantes representam uma tentativa de integração do religioso com o cientifico, do intuitivo com o objetivo e do clinico com o estatístico. Primeiramente como psicólogo da equipe de departamento de estudos da criança, da society for the previntion of cruelty to children, em rocherster, nova York, depois como professor de psicologia clinica na Ohio state university ( 1940 a 1945), a seguir como professor de psicologia e diretor do setor de aconselhamento na universite of Chicago (1945 a 1957) e, finalmente como professor de psicologia e psiquiatria na university of wisconsim (1957 a 1963) e no Western Behavioral Sciences institute, a carreira de Rogers tem representado um continuo esforço no sentido de aplicar os métodos objetivos da ciência ao que é essencialmente humano. (Pervin, 1978, p. 243).
Em 1968, Rogers e os membros de orientação mais humanística do Western Behavioral sciences institute desligaram-se desse instituto para formar o Center for the studies of the person. Esta mudança implicou numa série de mudanças de ênfase no trabalho de Rogers, do trabalho em ambiente acadêmico para o trabalho com um grupo de indivíduos que tem uma perspectiva comum, do trabalho com pessoas perturbadas para o com pessoas normais, de terapia individual para os trabalhos intensivos com grupos e da pesquisa empírica convencional para um estudo existencial do homem: “temos profundo interesse pelas pessoas, mas estamos meio desmotivados” pelos métodos mais antigos que consistem em estudálas como objeto de pesquisa.
Em sua obra, Rogers enumera quatorze princípios que aprendeu a partir de milhares de horas de terapia e de pesquisa. (Pervin, 1978, p. 243).
  1. Nas minhas relações com as pessoas descobri que não ajuda, a longo prazo, agir como se eu fosse aquilo que não sou.
  2. Descobri que sou mais eficaz quando posso me ouvir aceitando-me e quando posso ser eu mesmo.
  3. Atribuo um enorme valor ao fato de  poder permitir-me compreender uma outra pessoa.
  4. Verifiquei que me enriquece abrir canais através dos quais os outros possam me comunicar os seus sentimentos, seus mundos perceptuais privados.
  5. É sempre sumamente gratificante poder aceitar o outro.
  6. Quanto mais aberto estou às realidade em mim e nos outros, menos me vejo a tentar a todo custo remediar as coisas.
  7. Posso confiar na minha experiência.
  8. A avaliação feita pelos outros não me serve de guia...apenas uma pessoa pode saber se estou agindo com honestidade, aplicação, franqueza e vigor, ou se o que faço é falso, defensivo e fútil. E essa pessoa sou eu mesmo.
  9. A experiência é, para mim, a suprema autoridade...è sempre à experiência que eu me volto, para me aproximar cada vez mais da verdade, no processo de descobri-la em mim.
  10. Sinto-me satisfeito em descobrir uma ordem na experiência.
  11. Os fatos são amigos...essas penosas reorganizações são o que se chama aprender.
  12. Aquilo que é mais pessoa é o que há de mais geral... Aquilo que há de único e de mais pessoa em cada um de nós é provavelmente o sentimento que, se fosse partilhado ou expresso, falaria mais profundamente aos outros.
  13. A experiência mostrou-me que as pessoas têm uma orientação fundamentalmente positiva... Acabei por me convencer de que quanto mais um indivíduo é compreendido e aceito, maior tendência tem para abandonar as falsas defesas que empregou para enfrentar a vida e para progredir numa vida construtiva.
  14. A vida, no que tem de melhor, é um processo que flui, que se altera e onde nada é fixo.

Rogers, 1961, pág. 16-27