sábado, 26 de fevereiro de 2011

Sentimento Inesplicável

Um sentimento estranho que aparece do nada. Estamos bem e de repente tudo fica incomodo. A vida fica preta e branca, as pessoas perdem a graça, tudo causa irritação ou tristeza. Uma vontade de chorar arrebatadora nos consome e torna-se incontrolável. Esse sentimento não tem explicação, não tem tradução e causa dor.
Esse sentimento é a ansiedade. No dicionário, o termo ânsia significa angústia, desejo ardente, anseio; o verbo ansiar quer dizer: causar ansiedade, desejar com ardor, almejar; e a palavra ansiedade significa: um estado afetivo em que há sentimento de insegurança. O que sentimos é tudo isso misturado. A pergunta que fazemos é: o que tanto se deseja ou almeja? O que causa tanta angustia? Porque tanta insegurança? Não sei se há resposta para tudo isso. Muitas vezes é possível chegar a alguma conclusão, quando o sentimento de ansiedade vem por algum motivo especifico. Mas, e quando ele simplesmente aparece, sem que haja um motivo declarado? Creio que esses são os momentos onde vêm a tona aqueles problemas que fazemos questão de esquecer, os que estão guardados, as vezes, durante uma vida toda, e em algum momento da vida sentimos, mas já não se sabe do que se trata.
A ansiedade é resultado de uma dor que guardamos sem saber, e o tempo, com sua sabedoria, afastou da memória para causar menos sofrimento, porém, nosso inconsciente se encarrega de lembrar, e às vezes deixa escapar em forma de sintoma, em forma de ansiedade.
Talvez para algumas pessoas não seja fácil entrar em contato direto com esse sentimento, a ponto de tentar entendê-lo e saber de onde surgiu, porém, essa seria a melhor forma de lidar e combater a ansiedade. A fala é o remédio natural do ser humano para curar suas angústias, quando falamos estamos também ouvindo a nós mesmos, é a concretização dos sentimentos em forma de palavras. Somos movidos pelo simbolismo das coisas, e a palavra é o símbolo do sentimento. Mas, não basta falar e escutar, é preciso ouvir e entender o que esta sendo dito. Mais uma vez entra o simbolismo, que está por traz de muitas palavras. É preciso buscar os significados do que estamos dizendo, ou seja, entender o que está por traz das nossas palavras. Talvez ai encontremos respostas para a pergunta: o que tanto almejamos? De onde vem tanta insegurança?

Janaina N. Soares

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A sabedoria injusta da Vida



Será que a vida é justa? Se pensarmos que, desde  o nascimento estamos fadados a lutar, correr atrás, brigar, até conseguir dar os primeiros passos, pode-se pensar que a resposta é negativa.
O primeiro momento de vida já é a maior das dificuldades do ser humano, afinal, estamos lá, bem quentinhos em nossa bolsa d’água, grudadinhos em nosso cordão umbilical, recebendo dele tudo que precisamos, ouvindo e sentindo nossa mãe com todo amor do mundo. Ali, nada pode nos acontecer de ruim, tudo é perfeito. De repente somos expulsos, nossos olhos são ofuscados pela luz da vida, surgem barulhos de todos os lugares, tudo parece confuso, dolorido, incomodo, não somos mais parte de nossa mãe, é o inicio da jornada pela vida individual, onde tudo depende apenas de nós.
A partir daí não há mais volta, a vida, com todas as suas injustiças, nos consome e cobra cada passo errado, cada palavra mal pensada. Pagamos preços às vezes muito altos, quase a níveis insuportáveis. Porém, quando as dificuldades são superadas, percebemos o quanto foram indispensáveis para que tudo desse certo. Sem aqueles erros não chegaríamos nunca a um acerto, sem as pancadas da vida, jamais iríamos aprender o que realmente é bom ou mau.
Apesar de saber claramente de tudo isso, não é muito fácil lidar com as dificuldades. Elas machucam de uma forma muito dura, nos colocam no fundo do poço, dando a sensação de que tudo é impossível e que não há saída.
O bom de tudo isso é que, depois de alguns anos de vida, aprendemos que tudo tem jeito, que apenas um dia pode ser decisivo e os caminhos são inesperados, surpreendentes.
Talvez a vida não seja justa mesmo, e de propósito, porque se fosse justa não seria certa. A vida nos ensina todos os dias a sermos melhores, o problema é que, muitas vezes, aprendemos isso da forma mais dura e complicada. O jeito é aceitar, entender e tentar perceber que, tudo que acontece tem um motivo, e para crescer é preciso ter muita paciência e calma. É preciso aceitar a sabia injustiça da vida.

Janaina N. Soares 

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Aprendendo a seguir o próprio caminho


É indiscutível a união do ser humano com sua mãe, desde o momento em que é gerado. Afinal, eles ficam ligados diretamente no mesmo corpo durante nove meses, portanto é comum que, ano nascer, haja um laço muito forte nesta relação de amor. O bebê, em seus primeiros meses de vida, sente que ele e a mãe são a mesma pessoa, mas a medida que vai crescendo, surge a necessidade de transformar-se em um ser único, separado, individual. É um processo natural, e ocorre de forma saudável mediante a certeza de que, lá bem perto está a mãe, para acolher quando a solidão for insuportável. Em psicanálise essa separação é chamada de “parto psicológico”.
Aproximadamente aos cinco meses de idade, o bebê inicia sua jornada ao nascimento psicológico. Esse é o estágio em que a criança começa a perceber que o mundo funciona, mesmo sem que ele exista, e vê as coisas como objetos de exploração, sente curiosidade em tocar, sentir e ver, tendo prazer em tudo isso.
Aos nove meses chega á um segundo estágio, onde começa a engatinhar, maneira encontrada para ir fisicamente para longe de sua mãe. Porém, com a segurança de poder voltar para ela buscando uma base de segurança, com a qual poderá reestabelecer-se emocionalmente. A criança, a partir daí, vai praticar sua independência, e vai se encantar com a sensação de que pode ir além, de que é um ser forte e capaz.
Após essa prática, a criança já entende, mais ou menos, que é um ser individual e compreende as implicações da separação. Isso ocorre próximo aos dezoito meses de idade. É um momento difícil, porque se da conta de como é pequena, frágil e desamparada, aprende que existe um preço a ser pago quando se vive por conta própria.
No terceiro estágio do processo de separação, ocorre o enfrentamento e a resolução de um problema, com a qual a criança precisa se confrontar, afinal, agora ela conhece o prazer em ter autonomia, mas para tê-la é preciso estar sozinho, o que causa sofrimento. A tentativa então é de conquistar novamente à segurança e proximidade tida antes com a mãe. A criança vai precisar de uma reaproximação. Neste momento o bebê vai pedir atenção, tentar conquistar sua mãe encantá-la, a fim de diminuir a ansiedade vivida na separação.
Próximo ao fim do segundo ano de vida, o pequeno ser irá procurar seu modo particular de resolver a crise da reaproximação. É o momento de estabelecer um afastamento confortável entre ela e sua mãe, onde não se sinta muito distante, mas também sinta que tem alguma independência psicológica. Nesse estágio já foram resolvidos grande parte dos conflitos de separação e reconciliação. O Bebê viveu uma jornada, dá união para a separação, saindo da diferenciação, indo ao aprendizado e conquistando a reaproximação. Estes estágios têm fim com um quarto estágio, onde se consegue estabilizar imagens interiores de si e dos outros.
Apesar de já ter progredido muito, a criança desta idade ainda não é madura o suficiente para perceber que o bom e o mau podem caminhar juntos. Para a criança há algo  inteiramente bom e o que é totalmente ruim, de forma separada. A tendência é tentar defender o bem e afastar tudo que é ruim. Tenta evitar o sentimento de raiva, com medo de perder sua fonte de amor (mãe).
Através desta vivência, gradualmente, a criança aprende, mediante ao sentimento de amor e confiança, estabelecido em suas relações, a entender a ambivalência. Daí em diante, é possível unir a criança má e a criança boa, em um único ser. Nesse período, é possível também entender que, os outros também têm dois lados, hora podem ser bons e hora podem ser maus.
Entre os segundo e terceiro ano de vida o ser humano em desenvolvimento aprende que, o amor de sua mãe pode superar a raiva e o ódio, ele é incondicional. É o momento da vida onde se adquire o senso de amor, segurança e conforto proporcionados pela mãe, aprendizado primordial para um bom desenvolvimento.
Janaina N. Soares 
Reflexão sobre capitulo do livro "Perdas Necessárias".

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Lidando com as perdas da vida - parte II


A vida do ser humano já tem inicio com uma grande perda. O bebê é lançado para fora do conforto do útero de sua mãe, a partir daí sua maior necessidade passa a ser os cuidados maternos. Não é nada fácil ter de se tornar alguém separado da mãe, aprender a defender-se sozinho e sentir dentro de si que não faz parte do mesmo ser, como antes. Essa é a primeira perda de uma pessoa, e apesar de haver ganhos ao viver a separação física e emocional da mãe,  quando se é muito pequeno e despreparado,  as conseqüências de uma separação prolongada podem ser muito graves. O bebê sente-se seguro diante da presença materna, e seu primeiro terror é o medo de perdê-la.
Quando a criança completa aproximadamente seis meses de vida já é capaz de criar uma imagem mental referente a ausência da mãe. Ele é capaz de se lembrar de sua mãe, sendo assim sua ausência provoca grande sofrimento, sente-se desamparado e rejeitado. Os bebês sentem que a mãe não irá retornar, e quanto mais jovem o bebê, mais sofrimento causará essa sensação. Ter alguém próximo, que possa substituir os cuidados maternos, ajuda a amenizar esse sofrimento, porém, somente a partir dos três anos de idade a criança poderá começar a entender que a ausência da mãe é temporária, e mesmo assim, uma espera por seu retorno pode parecer interminável para a criança.
Uma criança, que é deixada por sua mãe pode se manifestar de maneira muito negativa em relação ao abandono sentido. Esse bebê foi submetido ao grande desespero de ter sido abandonado, mesmo que tenha sido por algumas horas apenas. As respostas podem incluir protesto, desespero e alheamento. Algumas crianças, que não conseguem suportar a ausência, tendem a procurar substitutos maternos, e quando há o retorno da mãe, a criança tende a recebê-la de maneira fria, distante e apática. Essa é uma das maneiras encontradas para enfrentar sua perda. É um disfarce para seu sentimento de raiva, uma defesa contra o medo de amar e perder novamente.
Os primeiros laços do ser humano são muito importantes, através deles é possível tornar-se humanos completos, o elo (mãe-filho ou pai-filho) ensina a amar e a ser amado. Se existirem separações graves no inicio da vida de um bebê, este será marcado por cicatrizes emocionais no cérebro, devido ao prejuízo a uma conexão humana essencial. Todo indivíduo necessita obter uma conexão humana. As pessoas são programadas para amar desde seu nascimento, e essa capacidade surge assim que é possível identificar um ser separado do “eu”.
Para que um bebê tenha um desenvolvimento saudável, é fundamental que possa ser submetido a uma conexão especifica nos primeiros meses de vida. A privação, temporária ou definitiva da presença da mãe tem um preço alto. O sofrimento do bebê é muito intenso, e existem danos, mesmo nas situações familiares mais comuns, como um divórcio, hospitalização, ou qualquer distanciamento físico ou emocional com a mãe.
Nas situações atuais, com a evolução do movimento feminista, onde a maioria das mães tem de trabalhar, são os filhos que sofrem as conseqüências. As crianças estão sendo privadas do direito de criar laços de confiança, alegria e auto-avaliação, os quais ocorrem nos primeiros anos de vida através da conexão com os pais. Com a ausência destes, os indivíduos crescem entendendo que o amor é um capricho e que os laços humanos podem se tornar investimentos perigosos, devendo então reservar o amor para si próprios, como forma de sobrevivência.
A criança  privada de uma ligação primaria, tende a se tornar menos confiante, seguro e não consegue adquirir a convicção de que vão encontrar, no decorrer da vida, pessoas capazes de satisfazerem suas necessidades. Quando, mesmo existindo essas ligações, se elas forem defeituosas ou instáveis, a tendência será transferir algumas das frustrações e necessidades não satisfeitas, para relacionamentos futuros, como amigos, filhos, cônjuges e até para colegas de trabalho.
A maior responsabilidade dos pais, quando decidem cuidar de seus filhos, é fazer com que aprendam a “ser humanos”. Para isso é necessário estar por perto, amparando, protegendo e ajudando para que um dia possam lidar com as perdas naturais da vida. Cada  perda tem seu tempo certo para acontecer, e depende dos pais perceberem qual a hora de estar perto e qual a hora de afrouxar os laços que construíram do decorrer da vida, até que os filhos estejam preparados para seguir os seu caminho. 
Janaina N. Soares
Texto inspirado no livro: "Perdas necessárias".

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Filme: Cartas para Julieta





Para que Psicoterapia?


Um dos objetivos da psicoterapia é proporcionar à pessoa o auto conhecimento e a compreensão mais realista de suas potencialidades, capacidades, sentimentos, necessidades e limitações. Quando é possível entrar em contato real com tudo isso o indivíduo adquire mais segurança e se torna mais confiante para lidar com os problemas e resolvê-los de modo apropriado. 
Ao contrário do que se pensa popularmente, o atendimento psicológico não é recomendado apenas para pessoas com graves problemas psicológicos. Afinal, cada indivíduo é único, e todos têm seus problemas ou dificuldades, que obviamente incomodam e causam sofrimento, por mais simples que parece aos olhos alheios. Todos têm o direito de viver melhor, e o auto conhecimento pode ser um ótimo caminho para enfrentar os espinhos da vida. 

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Lidando com as perdas da vida


O ser humano lida todo o tempo com o proibido ou impossível e busca sempre uma forma de se adaptar aos seus relacionamentos e vivê-los de formas imperfeitas e distintas. Nesses relacionamentos fatalmente inclui-se a perda, o abandono e a desistência. A perda faz parte da vida humana. Apesar disso, é muito difícil aceitá-la e conviver com ela. 
A melhor forma de superar uma perda é lamentar por ela. A lamentação pode ser um processo interior difícil, lento e doloroso em qualquer situação, tanto para o fim de um casamento, o fim de uma amizade especial, a perda do que fomos ou do que um dia esperamos ser, porque todos esses fatos fazem parte da essência humana, e o homem não está pronto para viver sem isso. 
A dor da perda é vivida em fases. Através destas fases se torna possível compreender a dor como um processo e não como um estado permanente. A primeira fase desse processo vem acompanhada de um choque, apatia e a sensação de descrença. É difícil aceitar que, a pessoa amada não está mais por perto. Vive-se então um momento de espera, onde o intelecto tenta reconhecer a perda, enquanto o corpo tenta negar os fatos. Quando passa o choque inicial, as vezes permanece um sentimento de incredulidade e negação, até que seja possível aceitar a realidade.
A segunda fase é mais longa e pode causar grande sofrimento psíquico. É uma fase de choros e lamentações. Passa-se por mudanças de humor e possíveis queixas de desconforto físico. É uma fase que envolve letargia ou atividade exagerada, regressão à outras fases, ansiedade pela separação, raiva e um desespero muito intenso. Aqui, a raiva pode ser direcionada à pessoas que estão de alguma forma, envolvidas na perda. O sentimento de culpa, seja irracional ou justificado, também é quase sempre parte do processo de dor pela perda sofrida.
O processo de dor passou pelo choque inicial e pela fase de dor aguda, a partir daí inicia-se o que pode ser chamado de final do luto. É um fim que significa um grande passo para a recuperação, aceitação e adaptação. Nessa fase a pessoa começa a recuperar a estabilidade, a energia, a esperança, a capacidade para ter prazer e investir na vida. É uma adaptação à grande dificuldade de lidar com as novas circunstâncias da vida. A tendência é obter mudanças de comportamento e criação de novas expectativas e autodefinições, uma forma de se acostumar com a nova vida.
As fases descritas anteriormente consistem no processo de lamentação, a forma que o homem encontrou para conquistar o crescimento e superar a dor, tentando se adaptar a ausência da pessoa amada ou da relação constituída. Porém, as pessoas não estão acostumadas a conviver com a perda, e algumas não tem força o suficiente para superar, entrando em um processo prolongado ou crônico de dor, estagnando-se na segunda fase. O individuo vê-se preso a um estado de dor intensa e irremediável. Sente um grande sofrimento, raiva, culpa, ódio por si mesmo, depressão. Se torna incapaz de dar continuidade a sua vida.
O normal é que a dor passe em um determinado período, talvez um a dois anos. Após viver todas as fases, voluntariamente a pessoa vai se desligando do relacionamento que perdeu. Quando isso não acontece, pode-se dizer que o sofrimento se tornou patológico, ou seja, a pessoa não pode e não quer se libertar.
Pode acontecer o contrário também, quando o sofrimento, que deveria ser intenso, fica ausente. Essa também é uma forma patológica de sofrimento. Algumas pessoas evitam sua dor por anos ou até a vida toda, se enganam achando que suportam bem a dor da perda, porém, na realidade não podem lidar ou aceitar.
A realidade é que, a dor existe, faz parte da vida, e deve ser enfrentada. As perdas causam sofrimento, porém, são necessárias, afinal na maioria das vezes precisamos perder para se obter finalmente um ganho. Quando a perda envolve a morte de quem se ama, ai fica mais difícil, porque a morte é algo quase desconhecido propriamente, não se sabe lidar com ela de forma realista, e não se tem escolha quando o assunto é esse. Resta então o poder de escolher a atitude a ser tomada diante da morte ou da perda. As escolhas podem estar entre morrer quando alguém que amamos morre, viver como incapacitado diante da dor, ou buscar novas formas de adaptação.
O processo de lamento dá certo quando se escolhe buscar outros caminhos. Esse processo faz o homem capaz de reconhecer a sua dor, senti-la, passar por ela. Através do lamento, é possível libertar os mortos e guardá-los dentro de nós.  Lamentar ajuda na aceitação das dificuldades deixadas pela perda, e a partir desse lamento, é possível enfrentar e elaborar o luto e a dor de perder.

Janaina N. Soares
Texto inspirado no livro “Perdas necessárias”.